quinta-feira, dezembro 16, 2010

QUEUE

Todas as confrontações pitorescas e associativeis aos filósofos e suas prostradas tentativas de explicação da vida, eu já vivi e experimentei, em algum momento, desde o inicio da minha. Interessante dizer que já me dei conta, por varias vezes, de momentos em que, divagando atônito em algum canto qualquer, me acordado pensando que estava sonhando, ou que estava realmente sonhando que estava acordado... Coisas assim que, como disse, desde criança fazia parte de meus pensamentos – daí a ideia estapafúrdia, certa vez, de acreditar que eu, na verdade, não era realmente eu, esta pessoa que conheço, que está aqui agora neste momento, mas simplesmente e nada mais que: Renee Descartes, ou então o próprio Renne achando que era eu, ainda que não me conhecesse, ainda que em corpos diferentes, ainda que em épocas diferentes, ou algo parecido... Realmente as divagações sempre foram complexas em minha mente, complexas mas comuns, então não me preocupava muito com elas, pois achava que tudo aquilo era normal, que todos eram assim como eu, ou como Descartes, que talves foi como todos nós, ainda que sem perceber; mas tempos atrás resolvi acreditar que nem todos pensam as mesmas coisas que eu e, desta forma, começei a pensar que tudo era mais simples do que parecia ou de que realmente é... Algumas coisas melhoraram, posso afirmar, outras continuaram iguais – talvez no final nada tenha mudado realmente, além do meu singelo ponto de vista. Desde então insisto comigo mesmo de que “eu sou eu mesmo”, e não mais Descartes no meio de um sono, mas somente eu, mesmo que eventualmente ainda, alguns destes pensamentos complexos acerca dos intrincados mecanismos constituintes das nossas vidas, criassem vida em minha mente; porem nada que pudesse amedrontar, mas que com certeza, não fazia parte do contexto geral em relação as associações cotidianas. Interessante porem, é a existência de um assunto que ainda não cheguei a um consenso, que é, talves na minha opinião: "a verdade essencial de nossa existência". Não querendo ser mais um com esta indagação, a respeito de quem somos, se realmente somos, para onde vamos, se é que vamos, por que viemos, se é que viemos... Confesso que realmente não deva existir uma resposta precisa para isso, mas, dia desses, me encontrava em uma fila, sim uma fila, destas em que esperamos por algo, onde os limites de nossas paciências são sempre postos à prova. Confesso que apesar do bucólico e pitoresco episodio, que geralmente nos causa transtornos, me encontrava tranquilo, pois aquela situação, pelo menos naquele momento, não me trazia nenhum desconforto, mas confesso que o tempo ali parado prestou-me para “colocar em pratica” aqueles velhos pensamentos incomuns, de modo a começar a arquitetar teorias acerca daquele contexto e de todas as variáveis que em uníssono completavam-se e complementavam-se perfeitamente de modo a tudo funcionar tambem perfeitamente, ainda que eu, ali absorto, esperando minha vez de pedir minha pizza – sim era uma fila para pizzas – mais uma vez, assim como fez Descartes em varias ocasiões, tentava entender as escolhas pessoais, as vontades pessoais, os medos, desejos, ascos, angustias de cada uma daquelas pessoas que estavam ao redor, as quais, talvez sem saber, ajudavam a criar aquela cena, que não era delas, mas minha, a qual ainda que parecesse estupidamente simples, estava completamente carregada de informações, que eu, na minha ânsia de alcançar minha vez de escolher entre o catupiri ou a mozzarela, digeria na tentativa de entender os mistérios da existência. Vi a mulher que de forma mecânica acrescentava os ingredientes naquelas pizzas, que com certeza "não sabia o que estava fazendo ali", vi o casal à frente que se beijavam despreocupadamente, que com certeza gostariam de estar em outro lugar; vi a pessoa que estava atrás de mim que de cinco em cinco minutos recebia ligações pelo seu celular onde seu interlocutor perguntava a cada uma destas ligações, quantas pessoas ainda restavam à sua frente para pedir seu petisco, como se estas ligações fossem ajudar em algo e, neste instante, de forma mais pura possível, se não tiver mais uma vez enganado diante das ilusões comuns da vida, acho que a entendi. Realmente entendi Tudo! Ali naquele momento, faltando pouco mais de seis pessoas para serem atendidas antes de mim, eu tive um lapso atemporal, um arrebatamento subito: sinapses, serotoninas, adenosinas trifosfatas, ainda que ultra-rapidas, me ajudaram a entender todo o sentido da vida, todas as razões e todos os porquês. Naquele instante, tudo fez sentido; o problema foi que, diante destas explosões de informações que serpenteavam em minha mente e diante de minha expressiva lerdeza de assimilação de todos estes pensamentos, não consegui absorver todas estas informações e aglomera-las de forma coerente de modo a constituir uma teoria geral desta nossa existência e, infelizmente este lampejo de genialidade, que com certeza traria acalento a todos nós, da mesma forma que veio, se foi, justamente quando a moça me despertou de meu sono cientifico e esclarecedor e todo se desfez para que eu pudesse responder a pergunta: “de qual sabor seria”... a pizza, dai, escolhi a mozzarela, agora não me pergunte o porquê!